un café en Rosario

Havia passado toda a noite sem pregar o olho. Os ponteiros do relógio tinham pressa e a tormenta não cessava. Acendeu um pequeno, mas bonito, pedestal com seis velas colocado sobre a mesa e mirou o relógio.
08.25 am
Não assustou-se, mas ainda estava escuro e ele achou estranho.
Levantou-se e foi a uma das janelas. Contemplou o céu, que era cinza por conta da chuva. Pudera chegar a ver como as folhas das velhas e radiantes árvores caíam. Pensava nas folhas como pessoas, caíam sem mais, e se levavam pelo vento… quem sabe pra onde, ou eram esmagadas por alguém que caminhava.
Contemplou por um momento os paragüas negros dançando no compasso da chuva e algum que outro cachorro que passeava por ali. Dava um aspecto melancólico, porém real…
Voltou para a cama e pensou em sair. Foi um impulso, vestiu um casaco, um cachecol, boné e óculos escuros. Era a tentativa de não ser reconhecido que ele tinha meia certeza de que falharia. Abriu a porta. La estava Rosário, como nunca antes havia visto.
Começou a caminhar, se sentia só e se refugiou em seus próprios pensamentos. Parecia distante e nem ver o movimento ao redor. Parecia cansado, doente, talvez traumatizado. Algo em seus amendoados lindos olhos, dizia que seu deus interior estava caído.
Chegou a uma cafeteria, sentou-se em uma cadeira e pediu um café duplo. Quem lhe atendeu fora um homem mais velho, de barba por fazer, barriga avantajada e camisa alaranjada.
Era estranho se imaginar em um lugar como aquele. Justo ele que já fora chamado de pie de oro. Ele que foi o melhor de todos… poderia parecer uma conclusão escrota, mas ele gostava do café dali. Rosário parecia ter o melhor café de toda Argentina, quizá do mundo. E como ele estava ali, sem ao menos saber como chegara…
- ¿Yo no te conosco, chico? – O homem da cafeteria perguntou com o tom hostil de sempre. Argentinos quase nunca eram amáveis, ele era uma exceção.
- No… no señor.
- Suena familiar. Yo creo que te vi en el televisor. En el canal treze.
- No, no…
- ¿Como no? iCreo que era vos!
- Yo estoy… tengo que ir.
- iOye! Muchacho. iEs temprano!
- ¿Eres vos, no? El petiso de los campos.
- Estaré de vuelta…
Terminou e já havia pago, assim que decidiu regresar a casa. As músicas das ruas e docas era reggaetón mexicano, vez e outra cumba argentina, ou até sertanejo brasileiro. Seguia submergido em seus pensamentos, mas agora se sentia observado, sentía que alguém o acompanhava, mas não podia detectá-lo em lado algum.
Mas poderia ser demente. Assim era, e pensou mais uma vez que as ausências físicas jamais são capazes de impedir a recordação permanente. Chegou a sua casa e regressou a cama, mas desta vez não parecia só…
- iLeo! – Alguém chamava. – iLeo, despierta!
Abriu os olhos pausadamente para ver-se em outro lugar. Era o avião pousado e a equipe desembarcava. Só restavam uns três ali dentro, ele e seu companheiro espanhol.
- ¿Cuánto tiempo dormí?
- Dos horas… tal vez más.
- Estava teniendo um sueño extraño… - Arfou um pouco.
- ¿Estás bien, Leo?
- Sí, claro. Sólo me recordé de Rosario.
- Ah, si. Pero ahora estamos en Barcelona Leo, Barcelona.
O outro disse retirando-se do avião. Ele, ficou ali por alguns instantes. A volta para casa ficara apenas no sonho, e no coração.

nadie puede y nadie debe 
vivir, vivir sín amor...
                     Fito Páez ~



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