epílogo

Cada dia que passa é como se fosse um teste, somos testados quanto a nossa paciência em conviver com pessoas que não aguentamos mais e temos que manter o controle, somos testados ao quanto realmente queremos correr atrás dos nossos sonhos ou deixá-los passar por entre os dedos, somos testados quanto ao nosso caráter, virtudes, se somos frágeis aos nossos medos ou se os enfrentamos de frente… vivemos e morremos a cada dia.
Não temos certeza de nada, cada minuto pode ser o minuto pleno de alegria ou um minuto de incerteza onde jogamos fora nossas chances por tolices. Tolices que nos fazem sofrer por horas, meses, anos a fio. Sofremos por tão pouco, nos desgastamos com pouco, desacreditamos por pouco, perdemos as vontades por pouco, deixamos de ser o que realmente queremos ser muitas vezes, por tão pouco, ou quase nada!
Hoje completam-se cem anos! Desde o fim, até o dia de hoje, ou o começo se preferirem… mesmo assim, aprendi tanto nesta minha centena de idade, apanhei tanto da vida, levei tanto na cara por vocês e por meu orgulho comedido. Me perdi por vários momentos, deixei de lutar pelo que acreditava porque assim seria melhor para os outros!
E me esqueci, completamente e infantilmente de mim… eu sei! Eu sei…  meus anseios, minhas vontades, minha essência… deixei-me levar. Foi por pouco tempo, mas o suficiente para deixar a vida me estranhar e me jogar no destino como um ser humano sem nada, vazio, fútil e inútil.
Eu sei… que fui ao fundo do poço quebradiço de lama, quase me afogaram e foram poucos, bem poucos os que me estenderam a mão. Já não tinha mais as amizades, o companheirismo, o amor que era glorioso e divino. Aquela mão que se podia contar, o amigo que me carregava no colo, a palavra, o elogio, a bronca, as brigas, os choros, as discussões, as risadas, as viagens, as cifras, as notas, as letras, os acordes, os morangos, as cerejas, os livros, os perfumes…
Eu sei… que os sorrisos não eram verdadeiros, que os casamentos não foram felizes, que era a aparência de uma vida profundamente vegetal. Que havia a dor do arrependimento, que havia a saudade, a falta. Eu sei que nada mais valia à pena. As lembranças voltariam sempre como fantasmas. E eu só queria mais um ano de presente, um ano de glória, sabedoria, de discernimento e que se encontrassem no meio das perdas que tive.
No amor, perdi, recebi, esqueci dos valores para ficar ao lado de alguém que na verdade não merecia. Quase me anularam! A sanidade voltou, não mais a tempo de remediar e conviver bem com a solidão. Era tarde para chorar, para causar, mas ainda dava para tirar dela o que ela tem de melhor: Aprendizado!
No trabalho, distanciei-se daquilo e daqueles que mais amava, foi-se embora a alegria de escrever e recitar. De subir no palco, de sentar no estofado da platéia, de levar as palavras ao vento somente. Estive perto dele o tempo todo, mas não como queria ou achava que deveria. E isso doeu!
Doeu também ouvir aquelas canções… nada mais tinha a ver com paz. Não, acho que não. Não para que eu dissesse a meu envelhecido reflexo no espelho que não sabia que eu era assim. Mas tenho certeza de que me envergonha disso.
Eu tive um bom coração e ele era um dos poucos que confiava em mim, mesmo não me entendendo na maior parte das vezes. Tem ideia do quanto eu sofro com isso? Ou do quanto ele sofreu? Foi tudo culpa minha! Tudo culpa minha e por isso eu nunca vou me perdoar.
Eu sei… perdi-me em conceitos, em preceitos, em frases feitas de amigos desnorteados que de amigos não tinham nada. Deixei-me levar pela agonia interna, pela confusão de objetivos, pela falta de foco onde mais deveria focar.
Vivi e morri nestes cem anos meus caros amados. Mas morri mais do que vivi. Mas os outros cem e tantos estão aí, batendo a minha porta! Imploram para entrar, e como sou boa anfitriã receberei com braços abertos. Mas quero-os bem vividos, bem pensados, bem medidos e comedidos quando necessário.
Que as lembranças se tornem presente, que habituem e deixem de ser apenas lembranças. Que a nostalgia passe a ser romance, que as músicas passem a ser vocabulário. Quero renovação! Quero você mais vivo e menos morto no meu travesseiro nestes novos anos de vida. Plenitude!
Eu me vejo entre os melhores, e eu me desejo o melhor. O paraíso, o melhor palco, a melhor canção, o melhor rufo de bateria, o melhor solo de guitarra, a melhor voz, o melhor gemido, a melhor turnê, o melhor figurino, o melhor show, a melhor conversa jogada fora, o melhor texto, a melhor ideia.
Aqui, eu já estou!
Hey you, comecemos aqui a nossa nova fase, digamos assim. Os homens, os pais, os amigos, os amantes, os ermitões, os proibidos, os selvagens que tantos amam, mas, poucos conhecem de verdade. O bolo, o sol, o colibri, o guerreiro, o filho-da-puta, o Peter Pan, o lago, o rio, a grama, a relva, a lama, os corpos grudados no suor ou na cama…
Parabéns! Valorização de amor próprio! A partir de agora façamos um juramento para esta vida: Não nos contentemos com mais um pouco em nenhum setor de nossas vidas. Vamos morrer menos, amar, chorar, sorrir, cantar, viver mais a cada dia de nossas vidas. Vamos viver para sempre!

2 comentários:

  1. Vamos viver para sempre...
    Nos foi prometida a "Eternidade".

    Belo texto! Lhe respondi no meu blogs.

    Maria luísa

    "os7degraus"

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  2. eu acredito que tudo é para sempre, e que nada tem um fim realmente, acredito mesmo em eternidade

    obrigada por visitar aqui
    grande abraço!

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Bonjour!
Que felicidade em te ver por aqui :) Só não seja homofóbico, racista, machista ou preconceituoso. Seja amável, e eu irei te amar também. Deixe o endereço de seu site para que eu possa retribuir a visita. Au revoir ~